Esta resenha foi extraída do livro da Lise Bourbeau do mesmo título, espero que seja útil na sua auto-descoberta.
Este artigo é dirigido tanto ao público feminino quanto ao masculino. Nele utilizo algumas vezes a palavra Deus. E ressalto que, quando falo em Deus, refiro-me ao Eu Superior, o ser verdadeiro, o Eu que conhece suas reais necessidades para viver no amor, na felicidade, na harmonia, na paz, na saúde, na abundância e na alegria. Desejo que você tenha tanto prazer em se descobrir nestas páginas quanto eu tive em partilhar minhas descobertas. (Lise Bourbeau)
CRIAÇÃO DAS FERIDAS E DAS MÁSCARAS
Quando uma criança nasce, ela sabe que a razão de estar encarnando é ser ela mesma. Sua alma escolhe precisamente a família e o ambiente em que vai nascer. Todos nós temos a mesma missão neste planeta: viver experiências até conseguir aceitá-las e nos amar através delas.
Se uma experiência é vivida na não aceitação, ou seja, em meio a julgamento, culpa, medo, remorso ou algo assim, a pessoa atrai para si, de modo constante, circunstâncias e indivíduos que a fazem reviver essa experiência. Alguns não apenas vivenciam o mesmo tipo de acontecimento várias vezes ao longo da vida como podem reencarnar uma ou mais vezes a fim de aceitá-lo completamente.
Aceitar uma experiência não significa concordar com ela. Trata-se, na verdade, de nos conceder o direito de experimentar e aprender. Devemos, sobretudo, aprender a reconhecer o que nos é benéfico e o que não é. O único meio de conseguir isso é tornando-nos conscientes dos efeitos de tal experiência. Tudo o que decidimos ou não, fazemos ou não, falamos ou não, e até mesmo o que pensamos e sentimos, acarreta consequências.
Quando uma pessoa se dá conta das consequências danosas provocadas por determinada experiência, ela deve, em vez de se recriminar ou querer mal ao seu semelhante, aprender a aceitar (ainda que inconscientemente) viver aquilo e a perceber que não era algo bom para si. É assim que vivemos uma experiência na aceitação. Mas é preciso salientar que, mesmo quando você diz “Não quero mais viver isso”, tudo pode voltar a acontecer. Dê-se o direito de repetir várias vezes o mesmo erro ou de reviver um fato desagradável antes de conseguir reunir a vontade e a coragem necessárias para se transformar. Por que não compreendemos as coisas logo de cara? Por causa do nosso ego, que é alimentado pelas nossas crenças.
Todos nós cultivamos inúmeras crenças que nos impedem de ser o que queremos ser. Quando essas crenças ou maneiras de pensar nos prejudicam, tentamos ocultá-las. E as ocultamos tanto que chegamos a acreditar que elas não existem mais. Ficar quites com elas exige então que encarnemos várias vezes. Somente quando nossos corpos mental, emocional e físico estiverem em sintonia com o nosso Deus interior é que nossa alma será totalmente feliz. Tudo o que é vivido na não aceitação se acumula no nível da alma. Esta, sendo imortal, retorna incessantemente, com grande bagagem acumulada em sua memória. Antes de nascer, decidimos o que queremos saldar durante a próxima encarnação. Mas essa decisão e tudo o que acumulamos no passado não são gravados em nossa memória consciente. É apenas ao longo de nossa existência que nos tornamos gradualmente conscientes do nosso plano de vida e do que devemos pagar.
Quando faço alusão a alguma coisa “não quitada”, refiro-me a uma experiência vivida na não aceitação. Há uma diferença entre aceitar uma experiência e aceitar a si mesmo. Tomemos como exemplo o caso de uma moça que foi rejeitada pelo pai, pois este desejava ter um menino. Numa situação assim, aceitar a experiência consiste em dar ao pai o direito de ter desejado um menino e rejeitado a filha. E, para essa moça, a aceitação de si consiste em dar-se o direito de ter odiado o pai e em perdoar-se por tê-lo odiado. Não deve existir nenhum julgamento com relação ao pai e a ela própria, apenas compaixão e compreensão pelo sofrimento de cada um deles. Ela saberá que a experiência foi resolvida quando se permitir fazer ou dizer alguma coisa que faça o outro vivenciar uma rejeição. Outra maneira de ela saber que a situação foi realmente quitada e plenamente aceita é perceber que a pessoa que ela tiver “rejeitado” não irá lhe querer mal, pois sabe que ser rejeitado por alguém em determinados momentos da vida é algo que acontece com todo mundo.
Não se deixe levar pelo ego, que costuma tentar, por todos os meios, nos fazer crer que resolvemos uma situação. Muitas vezes pensamos “Ora, compreendo que o outro tenha agido assim” apenas para não precisarmos
olhar para nós mesmos e nos perdoar. Nosso ego, dessa forma, tenta encontrar uma maneira furtiva de esquivar-se de situações desagradáveis. Às vezes aceitamos uma situação ou uma pessoa sem termos nos perdoado ou nos permitido odiá-la. Isso se chama “aceitar tão somente a experiência”. Repito: é importante fazer a diferença entre a aceitação da experiência e a aceitação de si. Esta última é difícil de realizar, pois nosso ego recusa-se a admitir que todas as experiências penosas que vivemos têm como objetivo nos mostrar que agimos da mesma maneira com nossos semelhantes.
Já reparou que, quando você acusa alguém de alguma coisa, esse mesmo alguém acusa você da mesma coisa?
Daí a importância de aprender a se conhecer e a se aceitar. É isso que nos possibilita vivenciar cada vez menos situações dolorosas. Só depende de você decidir tomar as rédeas e ser dono da sua vida em vez de deixar seu ego controlá-la. Fazer face a tudo isso, no entanto, exige uma boa dose de coragem, pois inevitavelmente tocamos em velhas feridas que podem doer muito, sobretudo se as arrastamos conosco há várias vidas. Quanto mais você sofre por causa de uma situação ou de uma pessoa específica, mais antigo é o problema.
Para ajudá-lo, você pode contar com seu Deus interior, que é onisciente (Ele conhece tudo), onipresente (Ele está em toda parte) e onipotente (Ele é todo-poderoso). Essa força está sempre presente, agindo em você. Ela atua de maneira a guiá-lo para as pessoas e situações necessárias para que você cresça e evolua conforme o plano de vida escolhido antes de seu nascimento.
Antes mesmo de nascer, seu Deus interior atrai sua alma para o ambiente e a família de que você precisará em sua próxima vida. Essa atração magnética e esses objetivos são determinados, de um lado, pelo que você ainda não conseguiu viver no amor e na aceitação em suas vidas anteriores, e, de outro, pelo que seus futuros pais terão de resolver por intermédio de uma criança como você. É isso que explica porque pais e filhos geralmente têm as mesmas feridas para curar.
Ao nascer, você não tem mais consciência de tudo que aconteceu e se concentra principalmente nas necessidades da sua alma, que espera que você se aceite com seus defeitos, conquistas, fraquezas, desejos, personalidade, etc. Todos nós temos tais necessidades. Entretanto, pouco depois de nosso nascimento, percebemos que, quando ousamos ser nós mesmos, perturbamos o mundo dos adultos ou daqueles que nos são próximos. Deduzimos, portanto, que ser natural não é direito, não é correto. Essa descoberta é dolorosa e provoca acessos de raiva, principalmente na criança. Esses acessos se tornam tão frequentes que passamos a achar que são normais. São designados como “crises da infância” ou, mais tarde, “crises da adolescência”. Podem até ter se tornado comuns para os humanos, mas naturais é que certamente não são. Uma criança que age com naturalidade, que é equilibrada e se dá o direito de ser ela mesma não é acometida por esse tipo de crise. Infelizmente, crianças assim quase não existem. Na verdade, observei que a maioria das crianças passa por quatro fases:
Após conhecer a alegria de ser ela mesma (a primeira fase de sua existência), ela conhece a dor de não ter o direito de agir assim (a segunda fase). Então vem o período de crise e revolta (a terceira fase). Para mitigar a dor, a criança se resigna e termina por criar uma nova personalidade, tornando-se o que os outros querem que ela seja. Algumas pessoas permanecem paralisadas na terceira fase a vida inteira, isto é, vivem continuamente revoltadas ou em situação de crise.
É durante a quarta fase que criamos diversas máscaras (novas personalidades), que servem para nos proteger do sofrimento vivido por ocasião da segunda. As cinco máscaras que criamos correspondem às cinco grandes feridas básicas vividas pelo ser humano. Anos e anos de observação me permitiram constatar que todos os sofrimentos humanos podem ser condensados em cinco feridas. Ei-las em ordem cronológica, conforme cada uma surge no curso de uma vida:
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